Viagem Astral e os Corpos Sutis: Os Ensinamentos Ocultos de Helena Blavatsky
A viagem astral, ou projeção da consciência, fascina a humanidade desde os tempos antigos. Muitas culturas possuem relatos sobre experiências fora do corpo, encontros com seres de luz e explorações em dimensões não físicas. Mas foi no final do século XIX, com o surgimento da Teosofia, que a viagem astral começou a ser compreendida de maneira mais sistemática no Ocidente, não apenas como fenômeno, mas como caminho espiritual.
Helena Petrovna Blavatsky, fundadora da Sociedade Teosófica, foi uma das grandes responsáveis por trazer à luz ensinamentos esotéricos do Oriente, até então restritos a escolas iniciáticas, para o público geral. Por meio de obras monumentais como A Doutrina Secreta e Isis Sem Véu, ela nos apresentou uma visão profunda sobre os corpos sutis do ser humano e os planos invisíveis de existência.
Neste artigo, vamos mergulhar nos ensinamentos de Blavatsky sobre a viagem astral, entendendo como ela enxergava os diferentes corpos do ser, a natureza do plano astral, os cuidados essenciais e o papel transformador dessas experiências no caminho da alma.
A Composição Oculta do Ser Humano
Segundo Blavatsky, o ser humano é um ser multidimensional, composto por sete princípios ou “corpos”, cada um vibrando em uma frequência e servindo a um propósito específico na jornada evolutiva. Esses princípios são:
1. Sthula Sharira – o corpo físico, a veste mais densa da alma, com a qual interagimos no mundo material.
2. Prana – a força vital que anima o corpo físico, ligada à respiração e à energia que flui pelos canais sutis.
3. Linga Sharira – o corpo etérico ou duplo astral, uma cópia energética do corpo físico, responsável pela manutenção da forma e ponte entre o físico e o invisível.
4. Kama – o corpo dos desejos e emoções, que nos liga às paixões, impulsos e instintos terrenos.
5. Manas – a mente pensante, dividida em duas partes: a inferior, voltada ao intelecto racional e ego, e a superior, que se conecta com os planos espirituais.
6. Buddhi – o corpo da sabedoria e intuição pura, ligado à alma espiritual e à compaixão universal.
7. Atman – o Eu divino, centelha eterna que transcende a personalidade e representa nossa essência mais elevada.
Na experiência de viagem astral, o que se projeta não é a alma em sua totalidade, mas sim uma combinação entre o corpo etérico (Linga Sharira) e os aspectos inferiores da mente (Kama-Manas). É por meio dessa fusão que o viajante astral se desliga momentaneamente do corpo físico e se desloca pelos planos sutis.
O Que É o Plano Astral?
Na tradição teosófica, o plano astral é o primeiro nível de existência acima do plano físico. Ele é considerado uma dimensão intermediária, onde pensamentos, emoções e desejos se tornam formas perceptíveis. Blavatsky descreve o plano astral como um lugar real, ainda que mutável, moldado não apenas pela consciência individual, mas também pelos pensamentos coletivos da humanidade.
É nele que muitas consciências permanecem por um tempo após a morte física, em uma espécie de purgatório emocional, conhecido na teosofia como Kama-Loka. Nesse nível, o que predomina são as impressões não resolvidas do desejo humano. Por essa razão, o plano astral pode ser tanto belo quanto sombrio, dependendo do estado vibracional daquele que o acessa.
Blavatsky nos alerta para o fato de que o plano astral não é um local “acima” ou “abaixo”, no sentido espacial, mas sim uma realidade paralela, que coexistiria com o mundo físico em outro nível de vibração. Ele é habitado por seres desencarnados, formas-pensamento, elementais, larvas astrais e, por vezes, mestres espirituais e guias.
O Papel da Consciência e do Desejo
A viagem astral é profundamente influenciada pelo conteúdo da nossa consciência. Helena Blavatsky frisava que os pensamentos e desejos de uma pessoa moldam sua experiência nos planos sutis. Por isso, o autoconhecimento e a disciplina mental são indispensáveis.
Durante o sono ou em estados meditativos profundos, o duplo etérico pode se descolar do corpo físico e explorar o plano astral. No entanto, se o projetor estiver vibrando em frequências densas — como raiva, medo, ganância ou ansiedade — ele será atraído para regiões astrais equivalentes, muitas vezes desagradáveis ou confusas.
Por outro lado, aqueles que buscam a viagem astral com propósitos nobres e espírito elevado tendem a acessar regiões de beleza, sabedoria e paz. Para Blavatsky, a qualidade da viagem depende do nível moral e espiritual do viajante.
A Ética da Projeção: Perigos e Responsabilidades
Ao contrário de abordagens modernas que muitas vezes encaram a viagem astral como uma prática “neutra” ou recreativa, Blavatsky foi enfática em advertir sobre os perigos do desdobramento inconsciente ou feito por pura curiosidade.
Ela reconhecia que o plano astral contém forças e entidades que podem interagir com a mente humana de maneira profunda — nem sempre benéfica. Entidades astrais inferiores podem se aproveitar de desejos não resolvidos, criando ilusões e interferências. Além disso, o uso da viagem astral com objetivos egoístas, como espionagem psíquica, manipulação ou vaidade espiritual, abre brechas que comprometem a saúde energética e psíquica do indivíduo.
Para a fundadora da Teosofia, o praticante sério deve adotar uma conduta ética irrepreensível, manter pureza nos pensamentos, desenvolver a compaixão e o altruísmo como escudos espirituais. Somente assim o acesso aos planos superiores se tornará seguro e transformador.
Viagem Astral como Caminho Espiritual
Blavatsky via a viagem astral como uma ferramenta poderosa, mas não como o objetivo final. Para ela, a verdadeira meta da alma humana é a união com o Eu Superior, com o Atman, e a libertação da roda do sofrimento e da ignorância.
A projeção da consciência, nesse sentido, serve como uma etapa do processo iniciático — uma oportunidade para encontrar mestres, acessar memórias espirituais, conhecer os mundos internos e, acima de tudo, transcender as limitações do ego. É um treinamento espiritual que permite reconhecer a ilusão da matéria e a eternidade do espírito.
Muitos discípulos relatam que, ao longo do tempo, suas viagens se tornam menos “aventuras” e mais encontros com o sagrado, com experiências de luz, amor incondicional e união com tudo o que existe. Isso reflete exatamente o que Blavatsky preconizava: a transcendência como destino da alma.
Como Se Preparar Para a Experiência Astral
Para os que desejam iniciar sua jornada de forma consciente e segura, inspirados nos ensinamentos teosóficos, algumas orientações podem ser seguidas:
1. Purificação emocional e mental: Trabalhe diariamente na elevação de seus pensamentos. Pratique o perdão, o desapego e a compaixão. Evite conteúdos densos e negativos antes de dormir.
2. Estudo e meditação: Leia os ensinamentos da Teosofia, medite sobre os princípios superiores do ser. Conhecer os mapas espirituais é essencial para não se perder nos planos sutis.
3. Intenção clara: Faça orações sinceras, estabeleça propósitos elevados para sua projeção. Peça para aprender, servir, curar ou se autoconhecer.
4. Práticas energéticas: Técnicas como respiração consciente, visualizações protetoras, uso de mantras e banhos vibracionais ajudam a preparar o campo áurico.
5. Diário de sonhos e projeções: Escreva suas experiências ao acordar. Com o tempo, os padrões se revelam e a consciência se expande.
Conclusão
Helena Blavatsky nos legou um tesouro de sabedoria sobre os mundos ocultos. Sua visão da viagem astral vai muito além do fenômeno. Trata-se de uma etapa sagrada no caminho de retorno ao nosso Eu Divino.
A projeção consciente pode nos levar a reencontros com mentores, revelações sobre vidas passadas, curas profundas e insights que transformam completamente nossa vida. Mas, para isso, é preciso responsabilidade, ética e compromisso com o autoconhecimento.
A verdadeira viagem astral começa dentro de nós — com a coragem de olhar para a alma, iluminar as sombras e seguir em direção à luz maior. Com os olhos da consciência despertos, podemos descobrir que o universo é muito mais vasto do que imaginávamos — e que já somos, em essência, seres eternos viajando entre mundos.